O corpo da Lolita Rodrigues será cremado nesta segunda-feira (6) em João Pessoa. A cerimônia de despedida será restrita apenas aos familiares, sendo fechada aos fãs. Lolita Rodrigues morreu aos 94 anos, neste domingo (5) na capital paraibana.
Conforme apurou o ClickPB, apesar do grande sucesso feito pela atriz, umas das pioneiras da televisão brasileira, a família optou por não realizar o velório, apenas uma cerimônia restrita à família.
A atriz Lolita morava em João Pessoa desde 2015, com sua filha Silvia Rodrigues, que atua como médica na cidade. Lolita estava internada há dias no Hospital Nossa Senhora das Neves, onde faleceu.
TRAJETÓRIA NA TV
Depois de entoar A Canção da TV, hino composto por Guilherme de Almeida, Lolita tinha a situação sempre recordada por Hebe, que dizia, com humor, “que bom que eu não cantei isso”. “Usei o mesmo vestido que havia feito para minha formatura na Escola Normal, porque não dava para eu ficar gastando dinheiro com roupas. O dinheiro, para mim, sempre foi curto”, conta.
Como o sonho de Lolita era atuar, ela pedia um papel a Cassiano Gabus Mendes, que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi. Primeiro, fez figuração no especial Canção da Bernadette e, depois, foi escalada para um papel de destaque, Esmeralda de O Corcunda de Notre Dame, em 1957.
PRIMEIRAS NOVELAS
Depois de participar de teleteatros e novelas que eram exibidas duas vezes por semana durante a década de 1950, Lolita fez a primeira novela diária da televisão brasileira 2-5499 Ocupado, protagonizada por Gloria Menezes e Tarcício Meira, na TV Excelsior, em 1963, como a antagonista Laura.
No ano seguinte, fez Ambição, da Ivani Ribeiro. De acordo com Lolita, a trama “foi a primeira novela a fazer um grande sucesso”. “Nem fazíamos ideia do alcance que a TV poderia ter. As pessoas que acompanhavam a trama achavam que as coisas que aconteciam na novela eram reais. Então, se alguém se casava na história, era comum recebermos presentes dos telespectadores. Era uma época de total inocência.” Quando ainda era inexperiente, a atriz se inspirava nas atrizes – e amigas – que admirava, como Márcia Real, Lia de Aguiar e Laura Cardoso.
ALMOÇO COM AS ESTRELAS
Como apresentadora, Lolita Rodrigues fez grande sucesso comandando o Almoço com as Estrelas, ao lado de Airton Rodrigues, seu marido e secretário de Assis Chateaubriand. Em sua biografia, a atriz evitou afirmou que o relacionamento era um assunto que não a deixa à vontade.
“Tive apenas um namoro sério, que foi o Airton Rodrigues, com quem logo me casei. Não vou falar sobre o final do meu casamento, porque saí muito machucada e não quero mais mexer nisso. Mas o curioso da história é que o meu romance com o Airton começou praticamente junto com o nascimento da TV Tupi, a primeira emissora de TV no Brasil em 1950.”
A atriz reconhece que Almoço com as Estrelas, que estreou em 1954,foi um programa que marcou sua carreira. “Confesso que nunca tive coragem de interromper um convidado! Então, alguns artistas pegavam o microfone e não paravam mais. Às vezes, eu percebia que determinada pessoa falava e falava, mas eu não dizia nada. Eu tinha consciência disso, mas não queria ser grosseira e deixava. Fazer o quê? O Airton é que ficava uma fera comigo.
Nos bastidores, isso gerava algumas discussões entre nós durante os intervalos comerciais. Também existiam alguns problemas técnicos. Não sei dizer quantas vezes, mas já aconteceu de entrar o playback errado e o artista ficar sem graça. Sempre fui distraída e, por isso, cometia algumas gafes. No Almoço com as Estrelas eram tantos os convidados que eu me atrapalhava mesmo. Não conseguia decorar onde cada um estava sentado”, afirma, contando que Airton foi quem a incentivou a seguir como atriz.
SEM BEIJO
Lolita conta que “a única coisa que ele não aceitava” era que fizesse cena de beijo com os galãs das novelas. Para contornar o problema, a atriz conversava com os diretores e com os atores com quem iria trabalhar. “Era meio chato, mas falava abertamente: Olha, não quero que você me leve a mal. Não fique zangado comigo, mas o Airton não gosta e não quer que eu beije na TV.
Nunca tive nenhum problema com isso. Todos sempre me compreenderam e foram extremamente cavalheiros comigo. Na hora do beijo a gente dava um jeito de fingir e a cena saía. Isso nunca atrapalhou a minha carreira de atriz. Nem minha amizade com os atores. Depois, tem uma coisa: as novelas de antigamente eram mais ingênuas. Não tinham safadezas. Nem gosto muito de entrar nesse assunto, porque dá a impressão que eu sou muito conservadora. Não é isso. Mas eu sou do tempo daqueles filmes de Hollywood em que as intimidades entre os casais eram apenas sugeridas”, diz a atriz em suas memórias.
Já separada, Lolita deu seu primeiro beijo – “técnico, claro”, como ressalta – com quase 60 anos de idade em Sassaricando (Globo, 1987) em cena com Carlos Zara. “Ele era meu amigão e havia muita cumplicidade entre nós. Fizemos muitas novelas juntos e eu sou amiga da Eva Wilma. Não dá para beijar qualquer um. Eu não consigo!”, afirmou Lolita, que interpretou a personagem Aldonza na história, desmentindo a versão de que o primeiro beijo tenha acontecido em A História de Ana Raio e Zé Trovão (Manchete, 1990). “A imprensa noticiou muito isso, mas não é verdade.”
VELHOS TEMPOS
“Hoje em dia, as pessoas só pensam em ganhar dinheiro. Mas quando começamos, o trabalho na TV não era bem remunerado. Não existia glamour, não existia figurinista, continuísta, cenógrafo. Todo mundo precisava fazer um pouco de tudo. A gente levava roupa, móvel e objetos de casa ou pegava coisas emprestadas dos amigos e da família. Comecei a fazer televisão numa época que TV era artesanato. No início da Tupi, eu cantava e apresentava.”
AMIZADES
Lolita formou com Nair Bello e Hebe Camargo uma amizade muito forte. “A Nair Bello era uma dessas amizades eternas. Ela e eu trabalhamos juntas no programa Zorra Total, mas quando não estávamos juntas, gravando, nos falávamos umas quinhentas vezes por dia ao telefone. Ela era uma amigona e também uma figura. Costumo dizer que a Nair era a mulher do minuto seguinte.
É impressionante como ela era ansiosa. Quando viajava com ela para o Rio, onde gravávamos, parecíamos duas loucas, porque a Nair não tinha paciência! Se estava entrando no táxi, já queria saber como faria na hora em que chegássemos ao nosso destino. Ela estava sempre pensando lá na frente. A Nair era maravilhosa.”
De acordo com a atriz, os encontros com Hebe eram mais eventuais. “Nos conhecemos em São Paulo, quando trabalhávamos na rádio Tupi. Estávamos com 15 anos e já éramos profissionais. Morávamos perto e logo fizemos amizade. Acontece que a carreira da Hebe cresceu muito. Continuamos boas amigas, mas não daquelas amizades de estar o tempo todo coladas”, afirma a atriz que é retratada na minissérie Hebe, lançada pela TV Globo em 2020.
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